sexta-feira, 30 de março de 2007

Cafezinho Poético

Sarau Poético Musical - Nº 514
03/04/07

sábado, 24 de março de 2007

Tarde de quinta

P@ulo Monti

Tarde de quinta.
Ressaca poética.
Onde as musas?
Olhares furtivos na galeria,
Consultas médicas,
Óculos escuros disfarçam os olhares que jamais ganharei.
Tarde de quinta.
Nossa!
O poeta tem fome.
Uma dor pré-carnavalesca
Perpassa-lhe o peito:
Cinzas anunciadas.
Tarde de quinta.
33ºC.
Galopam versos nas canções.
Mas, a tarde é vazia de inspiração.
Nisso,
Um tango
Soluça um fim de madrugada.

Paulo Monti: voz e poesia

Conheça e adquira ao custo de R$ 10,00 o CD de poesias recitadas pelo autor em edição bi-língue português e espanhol.

Acaso

P@ulo Monti

Prenúncio de chuva:
As nuvens pesam sobre a cidade - elas ou a outra? -
Um telefone brinda um recém-nascido.
Mas, e do tempo, o que dizer?
Um automóvel lança seu rugido:
Que é feito de nossos rugidos?
Nossos pés buscam raízes
Mas o melhor do tempo está no momento este, o da criação sabadinal:
O sábado com sabor de chuva!
E o resto, só o sonar de neurônio(perdido), refaz
A ânsia de nossos dias.

Acaso
P@ulo Monti
Traducción: Paulo Monti

Prenuncio de lluvia:
Las nubes se quedan sobre la ciudad - ellas o la otra? -
Un teléfono brinda a un recién-nacido.
Mas, y del tiempo, que decir?
Un automovil suelta su rugido:
Que eres de nuestros rugidos?
Nuestros pies buscan raices
Acaso el mejor del tiempo se quieda en este momento, el de la creación sabatinal:
El sabado con sabor de lluvia!
Y el resto, solo el sonar de neuronio(perdido), rehace
La ansia de nuestros dias.

Repente

P@ulo Monti

Num repente
A amplidão.
O céu invade
A sala
E os objetos
Flutuam
Num raio de sol.
Onde anda a visâo?
(O céu não invade mais as salas)
Digam-me, por favor.
Quero a lua perdida de um Planalto distante
E cheiro de relva fresca na madrugada.
Quero o coração deixado no mar.
Quero regar o cérebro embotado
E libertar os primeiros relâmpagos noturnos.

Repente(De repente)
P@ulo Monti
Traducción: Paulo Monti

En un repente
La amplitud.
El cielo invade
La sala
Y los objetos
Fluctuan
En un rayo de sol.
Donde la visión?
(El cielo no invade más las salas)
Diganme, por favor.
Quiero la luna perdida de un Planalto a lo lejos
Y la fragancia de césped fresca en la madrugada.
Quiero el corazón dejado en el mar.
Quiero regar el cerebro embotado
Y libertar los primeros relámpagos nocturnos.

Drama

P@ulo Monti

Meio sem jeito
O poeta se ajoelha ao momento da criação:
já são versos sem sentimentos, ilhados pelo
cimento e abençoados pelo azul.
Mas, eis que uma chuva precipita o banho universal.
E o pobre poeta sente como é difícil a penosa faina
da disposição livre,
Mais difícil, talvez, a arquitetura interna do homem.
O cheiro de terra molhada penetra nos passos comedidos
Entre tantos vazios,
E, no peito, algumas poucas plenitudes.
O verso é outro, as luzes estão apagadas!

Drama
P@ulo Monti
Traducción: Paulo Monti

Medio sin manera
El poeta se pone de rodillas al momento de la criación:
Ya son versos sin sentimientos, aislados por el
cemento y bendito por el azul.
Mas, he que una lluvia precipita el baño universal.
Y el pobre poeta siente como es dificíl la penosa faina
de la disposición libre,
Mas dificíl, quizás, la arquitectura interna del hombre.
El olor de tierra mojada se impregna en los pasos comedidos
Dentre tantos vacios,
Y, nel pecho, algunas pocas plenitudes.
El verso es otro, las luzes están apagadas!

Texto

P@ulo Monti

Escrevo-te, esta noite, sobre um violão. Não tem nenhum sentido simbólico. Escrevo sobre um violão. Apenas isto. Mas, escrevo-te como quem pare: sofrendo o conjugar de novas palavras, o descobrir de maneiras diferentes de percepção. Escrevo na noite. Por sua calma com que me faz pensar em ti.

Mas, sinto-te como nunca, longe. Estás, não estando. Sentes falta minha, de meu espaço físico, de minha caminhada, porém, situas-te noutra atmosfera. E, perdôo-te por não poder sentir a minha. Ela é mais densa, mas nem tanto que não a possas penetrar: nela, sofro o desgaste do escrever. E, ainda mais, sobre um violão. Até podes achar-me ridículo e pouco cômodo. Não te censuro. Pelo contrário. Concordo contigo. Mas, se não passarmos uma noite em claro, jamais saberemos o quão gratificante é o amanhecer. E, no amanhecer, me revelo. Assim como no anoitecer me desvelo. Mas, são condições.

Quem tem opções, me rirá. E rirei junto. É preciso muita pouca coisa para haver condição – é preciso que ela exista, simplesmente. E ela existe e isso é maravilhoso. Eu me gratifico profundamente. E, profundamente, vou tecendo os elos da minha corrente. Um a um. Até que, de repente, o lirismo me surpreenda numa sílaba ou num verbo – amar, sempre tão intransitivo, mas com que transitar!

Mas, já outros mundos me ocorrem. Assaltam, quase. Enfim, a vida é feita de assaltos. Então, cada vez mais bandoleiro me torno. Assalto o sol pela manhã – estrelas, à noite. E, nas estrelas, o grande mistério: serão realmente poligonais? Não o sei. Aliás, já outro assalto me interrompe.

O poder, o fascínio que exercem sobre nós certas criaturas encantadas que não quero desencantar. Aliás, estas ficarão comigo, não o saberás. Não quero desencantá-las. Às vezes, acho que o poder maior está no próximo minuto. Dele dependem todos os meus sentidos. E, nele, te encontrarei. Ou perderei.

Não, não quero o próximo instante. Basta-me o que tenho, se é que o tenho. Acho até que é ele que me tem. E, nesse ter ou não ter, vamos assaltando e balançando loucamente sobre o abismo. O abismo que nos separa física e emotivamente, pois, jamais estaremos dentro de nós.

Aliás, sábia lei, esta da física: não ocupar o mesmo lugar. Ainda poderemos tentar – e devemos fazê-lo quando estivermos a sós, embora sabendo que nunca estaremos, pois, somos dois – derrubar este mito.

Por falar em mito, somos tão carentes de mitos que esquecemos o maior deles: nós mesmos. Por que não seres um mito para ti mesmo? Por que precisas buscar fora quando tens tudo dentro? Necessário é, pois, que jorrem todas as coisas, as poucas coisas que, falsamente, pensamos que somos. Deixemos que venham à tona todos aqueles corpos celestes que nos foram fecundados há séculos, quando o primeiro grande contato foi feito: sejamos capazes de ser, não de buscar o que não é somente porque o projetamos.

Queres que te diga que grande contato é esse, não? Para que queres saber? Não te basta que ele aconteceu? São coisas encantadas nas quais é preciso crer. Crer cegamente. Ou, ainda, saber que são encantadas, pois, ser é fundamental. Sejamos, então. Por isso, quero ser justamente aquele que está atento, que cuida do mundo, que olha mais internamente: que escreve à noite, como um suicida, equilibrando-se numa tênue linha – como uma buzina na madrugada. Mas, já é outro mistério. E a necessidade de explicar se faz presente.

Ah! Explicar. Sempre explicar. Aceita o mistério e procura sê-lo, encantadamente, como ele o é, sem perguntas. Ele é. Isso basta. E de um ângulo sobre um violão. Um violão apenas. Mas, quanta música dorme nele esta noite. Quanta!

E tu não saberás que atravesso a noite, olhos atentos ao menor ruído e, ouvidos prestes a divisar o amanhecer. Assim, vou sendo: meio louco e meio poeta, rasgando as cortinas da casa para que o sol surpreenda-nos magnificamente nus, embora estejamos cobertos com a poeira dos séculos. Mas, o que importa, agora, é que a lua descobriu-se e é. Lua, apenas lua. Vou fechar a janela e vou dormir. Dormirei sendo.

Intervalo

P@ulo Monti

Os fantasmas passeiam na casa adormecida.
Enchem cálices vazios
Em noites repletas de sonhos novos e antigos.
A lua, navega solitária, satélite:
Vive a solidão do espaço!
E as casas abandonadas
Encontram razão quase perdida de vidas à-toa(os fantasmas são tão vagabundos...).
Mas, o mistério é noturno,
E a noite, despertada, anda, anda...

Intervalo
P@ulo Monti
Traducción: Paulo Monti

Los fantasmas pasean en la casa dormida.
Llenan cáliz vacios
En noches repletas de sueños nuevos y antiguos.
La luna, navega sola, satélite:
Vive la soledad del espacio!
Y las casas desamparadas
Encuentran razón casi perdida de vidas sin rumo(los fantasmas san tan vagabundos...)
Pero, el misterio es nocturno,
Y la noche, despiertada, anda, anda...

Aurora

P@ulo Monti

Um sono profundo
Marcado no velho sapato corrompido pelo tempo
Aprisiona o ruflar das asas
Sonolentas da manhã.
O passeio noturno
Liberta antigas canções,
E, em coloridos poços sonoros
Vivem suaves, mas tristes
Criaturas: antigos humanóides.
Num grito isolado e quase sufocado
Algumas tímidas borboletas
Ameaçam o primeiro vôo:
O primeiro vôo...
E, nas contrações azuis da minha sombra,
Transformo-me em anjo sonoro
E musifico.
Faço-o até a última pena,
Até que a primeira estrela da manhã
Bruscamente poligonize-se em minha janela.


Aurora
P@ulo Monti
Traducción: P@ulo Monti

Un sueño profundo
Marcado en el viejo zapato corrompido por el tiempo
Aprisiona el ruflar de las asas
Somnolientas de la mañana.
El paseo nocturno
Liberta antiguas canciones
Y en coloridos pozos sonoros
Habitan dulces pero tristes criaturas:
Antiguos humanoides.
En un grito isolado e casi sufocado
Algunas timidas mariposas
Amenazan el primero vuelo:
El primero vuelo ...
Y en las contraciones azules de la mia sombra
Transfigurome en un angel sonoro
Y musifico.
Hagolo asta la ultima pluma,
Asta que la primera estrella de la mañana
Bruscamente venga a poligonarze en mi ventana.

Passagens

P@ulo Monti

Atravesso pontes internas
Como quem naufraga
Num verso trôpego!
Quando eu morrer,
Não coloquem flores, por favor!
Quero-as, agora,
Brancos cravos em profusão.
Atravesso os dias,
Como quem dedilha um solo de violão,
Longe,
Tangendo restos de solidão!
Atravesso linhas da tua mão
Ciganamente, feito um poeta louco,
Embriagado de nuvens
E de teu olhar!
As pontes naufragaram.
A morte um dia acontecerá.
Tua mão,
Não sei.
Teu olhar,
Cadê?

Poesia

P@ulo Monti

Poesia dói, escorre,
Todo santo dia.
Longe, o amor deságua
Dores no corpo.
Perto, é verbo sem conjugar
É só, infinitivo!
Onde luares?
Caminhares ao léu?
Flor sem mãos a ofertar
Dói, escorre, deságua, sangra!
Poesia só, perdida, no planalto central do peito!
Um momento, um sentir.
Poesia, dói.
Escorre todo santo dia.
Poesia dói!

Despedida

P@ulo Monti

Ilusão acabada.
Sonho desfeito:
Esperança despedaçada!
Um sábado antigo, de carnaval,
Despede-se,
Melancólico,
Para sempre!
A força das palavras
Não é nada:
O sentimento, porém, que carregam
É demolidor!
E Dói.
Dói pelo que se lê, pelo que se escreve.
Dói a indiferença e o sarcasmo:
Dói a fragilidade do tempo e amor perdidos!
Mas, agora,
Basta!
Tudo está consumado:
O poema esvaiu-se!
Mas, a paz, esta sim,
voltará!

O dia em que não escrevi

P@ulo Monti

O dia em que não escrevi
deixei-me ao sabor do vento suave
e das nuvens bocejando verões no céu!
O dia em que não escrevi
aconteceu uma faxina na alma:
sem tradução!Só sentires ...